top of page

Pós pandemia traz conscientização sobre doenças mentais em ambiente de trabalho

Pouco se falava sobre burnout ou doenças mentais decorrentes do trabalho excessivo nas empresas antes da pandemia. Tudo mudou com o final da pandemia e agora estes temas fazem parte do cotidiano.


Antes o máximo que se falava era em stress, reconhecer uma depressão era considerado um tabu nas empresas, sinal de fraqueza do executivo que não conseguia lidar com as pressões do dia a dia. Mesmo empresas com programas de Compliance implementados acabavam por não receber informações sobre este tema, pois eles são delegados para o Departamento de Recursos Humanos, que, sem apoio da alta direção, pouco podiam fazer para ajudar estes profissionais doentes.


Agora, como o burnout foi reconhecido com a doença ocupacional e, portanto, podendo levar um executivo a se afastar de suas atividades, ainda existe o estigma social. Muitos executivos, apesar de terem o direito de se afastar quando doentes, procuram não fazer o mesmo, ou quando fazem, pedem para não ser utilizado o termo doença mental por não quererem sofrer alguma futura retaliação, seja através de uma análise de desempenho ruim, seja através das fofocas dos colegas no escritório.


Muitas pessoas pensam que burnout somente atinge profissionais de alto escalão. Total engano, pode atingir qualquer pessoa independentemente da idade e ocupação. O que conta é o ambiente corporativo saudável ou não no qual está inserido o profissional. Pressões sempre irão existir, mas a alta direção deve ter ciência do quanto de pressão o profissional pode suportar, de forma saudável, e prover todo o apoio mental e operacional necessário para que não se chegue a uma situação extrema do profissional, como o suicídio.


Como ocorreu esta semana com um jovem estagiário, de uma empresa do ramo do direito, que após perder um prazo tentou cometer suicídio na sede do próprio escritório. Tal fato demonstra que existe um problema sério nesse ambiente corporativo. Não seria possível alegar desconhecimento do clima de pressão excessiva, da cobrança exacerbada de todos os colaboradores e estagiários. Principalmente que os estagiários possuem uma normativa diferenciada por não serem colaboradores, mas estão em período de aprendizagem e não devem ser utilizados como mão-de-obra barata. Isso mostra a necessidade de promover um ambiente de trabalho saudável e um programa de saúde mental efetivo.


Ficam pendentes as explicações que ainda não temos em relação ao ocorrido. O que devemos pensar sobre a cultura organizacional dessa empresa? Será que tinha de fato preocupação com todos seus colaboradores? Ou será que bater metas e ganhar mais dinheiro ou renome era mais importante?


Quando estamos diante de uma cultura de Compliance efetiva, os colaboradores se sentem à vontade para expressar suas necessidades, problemas e situações que potencialmente sejam antiéticas ou ilegais. Então, uma situação em que alguém considera o suicídio melhor que a vida, será que o problema seria apenas do profissional que se matou? Ou o entorno realmente contribuiu para que ele tentasse tirar sua própria vida?


Um ser humano e um ecossistema de emoções que vêm de diversos lugares, seja da sua vida pessoal, familiar e profissional, não anulam um ao outro, ao contrário, todos se somam. Mas, como a pressão do trabalho exacerbado pode ter contribuído com o burnout?


Estamos diante de uma mudança na forma como trabalhamos e interagimos nas empresas, temos que pensar de forma mais humanizada e completa em relação aos colaboradores. Um colaborador com problemas deve ser tratado de forma humanizada e respeitosa, não como um fardo ou como alguém que não aguenta a pressão. Não somos máquinas e sim seres humanos, sem respeito, consideração e espaço para expressar nossas ideias sem julgamentos, não chegaremos a lugar algum. Ou melhor, iremos chegar a mais situações de burnout e, infelizmente, mais casos de suicídio.


Artigo: Patricia Punder


Patricia Punder, advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil).


Artigo publicado no Jornal Jurid, 25 de agosto/22

bottom of page