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A violência da Cultura Tóxica Corporativa nas Mulheres

Atualizado: 2 de set. de 2021

Por Patricia Punder - Punder Advogados


A cultura tóxica nas empresas não é um tema recente. Faz muitos anos que o ambiente corporativo pode ser nocivo e, até violento, para os colaboradores em geral. Não se falava abertamente sobre o tema no passado, pois trata-se de um problema estrutural e que tem como responsáveis normalmente a Alta Direção, devido a sua falta de exemplo, e o Departamento de Recursos Humanos, que muitas vezes decide atuar politicamente e não enfrentar o tema com a Alta Direção. Ambos os casos, esbarram sem dúvida na cultura pessoal e corporativa.


Este ciclo vicioso leva, na maioria das vezes, ao discurso de que a empresa não é a responsável pela alta rotatividade interna e pela perda de talentos. Mas, sim a responsabilidade seria do(a) colaborador(a) que decidiu sair, por não vestir a “camisa” da empresa. Outra desculpa utilizada também é a cultura do “pointing the finger”, ou seja, ninguém é responsável por nada, o erro sempre é de outra pessoa ou departamento.


Normalmente, as mulheres inseridas em um ambiente corporativo tóxico acabam sofrendo muito mais que seus pares do sexo masculino. Brincadeiras inapropriadas são uma constante na vida destas profissionais. Elas são questionadas por terem que ir ao médico com os filhos, pelas roupas e maquiagens que usam, pela forma de se expressar nas reuniões. São as “mandonas”, “chatas” ou estão no momento da “TPM” (infelizmente, até o ciclo hormonal feminino tem sido utilizado como algo degradante).


Salários desiguais quando as funções são equiparadas também são uma realidade. Afinal, as empresas tóxicas ainda não vêm a força feminina como algo importante no ambiente corporativo. Frases como “lugar de mulher e na cozinha” ou “mulher tem que ser dócil” são uma constante. O fato de serem assertivas, mexem com o “bias” estruturalmente machista do ambiente tóxico. Afinal, quantas mulheres estão hoje na Alta Liderança das empresas? E quando fazem parte, além dos seus salários serem menores, muitas vezes tem um título menor que seus pares.


Além disso, a cultura tóxica pode trazer o viés de que as mulheres estão disponíveis, pela falta de respeito que impera neste ambiente. Então, o assédio sexual vira uma constante na empresa em todos os níveis. Se o assediador não é penalizado pelo Comitê de Ética, do qual a Alta Direção e Departamento de Recursos Humanos também faz parte como integrantes, por qual motivo este comportamento deve parar? Ao contrário, ele evolui para situações de violência física dentro do ambiente de trabalho.


O pior cenário que posso exemplificar seria o estupro. Tristemente, acontece principalmente nas convenções de vendas ou de fim de ano quando os colaboradores vão para um hotel ou em confraternizações noturnas com consumo livre de bebidas momento, que alguns colaboradores confundem o ambiente amigável dando início ao jogo do vale tudo. Muitas pessoas em estado alcoolizado não aceitam ouvir um “não”. Pensam que é uma brincadeira, um jogo para sedução.


Uma vez que estamos diante de um impasse estrutural, a empresa deve reconhecer que existe um problema interno. Voltar os olhos para a cultura antiética que foi estabelecida. Talvez tenha que demitir executivos, rever o papel do Departamento de Recursos Humanos ou contratar uma consultoria para auxiliar na conscientização sobre os comportamentos não aceitáveis no ambiente de trabalho. Mas, o principal objetivo é agir o mais rapidamente possível para desconstruir o ambiente tóxico e implementar um ambiente saudável, respeitoso e inclusivo.


Sendo assim, podemos afirmar: todas as empresas podem cometer erros, mas é possível, através do reconhecimento destes erros, mudar o ambiente corporativo tendo força de vontade e colocando a ética em primeiro lugar.


Patricia Punder, advogada é compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil).


Artigo publicado no Jornal Jurid, 17 de agosto de 2021


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